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ASSISTÊNCIA AO PRÉ – NATAL NORMAL
Este guia tem como
objetivo revisar e orientar o colega, que atende saúde da família, na rotina e
condução de um pré-natal de baixo risco. Obviamente será uma explanação sucinta,
não tendo a pretensão de abordar temas controversos, nem nos aprofundarmos em
discussões sobre condutas variadas. Trataremos de forma objetiva as condutas
ditam de rotina e em intercorrências na gestação.
O pré-natal visa
preservar a saúde física e mental da gestante e identificar tanto as alterações
próprias da gestação, como os fatores de risco que possam repercutir nocivamente
sobre o feto.
O atendimento
pré-natal foi originado nos EUA na primeira década deste século, quando as
enfermeiras da associação de enfermagem de Boston, pensando em contribuir com a
saúde das gestantes, iniciaram visitas a todas as grávidas registradas para
parto em seu hospital de trabalho. As visitas tiveram tanto sucesso que este
princípio foi gradualmente aceito pelos médicos. No Brasil o pré-natal vem se
tornando assunto de grande importância em saúde pública, principalmente pelo
perfil sócio-econômico da população brasileira e tomou maior abrangência após os
programas de saúde da família. Certamente grande parte dos pré-natais realizados
hoje, são efetuados por médicos de família, aumentando a importância deste
profissional no atendimento da gestante.
ACOMPANHAMENTO:
O acompanhamento de
pré-natal deve ser iniciado o mais precocemente possível. A assistência básica
consiste de consultas mensais até a 28° semana, quinzenais até a 36° semana e
semanais até o parto ou alcançado o período de risco (após 42 semanas).
Alternativamente, como
sabemos que o fluxo de pacientes em saúde pública é grande, podemos seguir
acompanhamento mensal até a 33ª semana, quinzenal até a 37ª semana e semanal até
o parto. Ressaltamos que esta conduta não aumenta o risco pré-natal.
A PRIMEIRA CONSULTA:
A primeira consulta deve constar
de uma anamnese geral e direcionada para o passado ginecológico e obstétrico. É
neste momento que identificamos fatores de mau passado obstétrico que podem
influir negativamente nesta gestação. Também é importante identificar hábitos de
vida que podem ser nocivos, tanto a gestante como ao feto, tais como etilismo,
tabagismo, drogas, etc...
O exame físico deve
incluir uma avaliação geral, mas com ênfase ao aparelho reprodutor. Especial
atenção às mamas (preparando-as para a amamentação e não esquecendo que CA de
mama também ocorre em gestantes) e a avaliação do colo uterino e identificação
de vaginites. Esta também é uma boa hora para coletar um citopatológico (deve
ser coletado somente material da ectocérvice), caso a paciente não o tenha em
dia.
Outra etapa importante
é determinar a idade gestacional correta e avaliação da altura uterina e
ausculta dos batimentos cardíacos fetais –BCFs - (dependendo da idade
gestacional). Quando a data da última menstruação é desconhecida, podemos
estima-la através do toque ou palpação da altura uterina a partir da 16ª semana.
Entre a 18ª e 32ª semanas há uma boa correlação da altura uterina com a idade
gestacional. Ainda há a opção da ultra-sonografia, preferencialmente no primeiro
trimestre, quando a margem de erro para determinar a idade gestacional é menor.
Ainda na primeira
consulta, deve ser iniciada a avaliação laboratorial, que deve constar dos
seguintes exames:
Lembramos que se a
paciente for Rh negativo, com esposo Rh positivo deve ser feito a pesquisa de
Coombs indireto na primeira consulta, com 28 semanas e 32 semanas. Fica a
critério do médico assistente a utilização de uma dose da vacina anti-Rh ainda
durante a gestação (não é uma conduta realizada em todos os serviços,
principalmente pelo alto custo da medicação). Dependendo da disponibilidade do
serviço, também é recomendada a pesquisa de Rubéola (IgM e IgG) e para pacientes
com fator de risco, a pesquisa de hepatite (B). Ver tabela 1.
TABELA 1 – Exames
complementares
|
Primeira consulta |
24ª - 32ª Semanas |
36ª Semana |
Achados que indicam investigação ou tratamento |
Hemograma |
sim |
|
sim |
Hemoglobina 10g% |
Tipagem sanguínea |
Sim |
|
|
|
Coombs indireto |
* |
* |
* |
Se estiver + |
VDRL |
sim |
|
sim |
Se estiver + |
Glicemia de jejum |
Sim |
|
|
|
Rastreamento para diabete gestacional |
|
Sim |
|
Jejum > 90 mg%
TTG > 140 mg% |
EQU |
sim |
Sim |
sim |
Bacteriúria ou proteinúria |
Citopatológico de colo uterino |
Sim |
|
|
|
Ultra-sonografia |
** |
*** |
|
|
HbsAg |
|
|
sim |
Se estiver + |
Pesquisa de toxoplasmose |
sim |
|
sim |
Se estiver + |
* Solicitar quando a mãe é Rh negativa ou tiver história de transfusões
prévias.
** Necessário quando não
se sabe a idade gestacional.
*** Quando se dispõe de
somente um exame ultra-sonográfico durante a gestação, deve-se realiza-lo por
volta da 20ª semana preferencialmente.
PRÓXIMAS CONSULTAS:
Nas consultas
subseqüentes, a atenção se dirige especialmente à parte obstétrica, devendo-se
ficar atento para o surgimento de fatores de risco. Atualiza-se a anamnese,
calcula-se a idade gestacional e repete-se o exame físico, que neste momento é
mais direcionado à parte obstétrica. É obrigatória a medida da altura uterina,
ausculta dos batimentos cardíacos fetais, determinação do peso e verificação da
pressão arterial.
Pontos importantes
também são a determinação do estado nutricional da gestante (procurando corrigir
possíveis desvios de alimentação), a orientação da preparação e estímulo ao
aleitamento materno e o toque vaginal (deve estar mais relacionado a queixas
específicas da gestante). No primeiro trimestre o toque é importante para
determinar o tamanho uterino e confirmar a idade gestacional, no segundo, para
detectar precocemente qualquer sinal de incontinência istmo-cervical e, no
terceiro trimestre, na detecção de modificações do colo sugestivas de parto
prematuro ou até mesmo do trabalho de parto normal.
Com o evoluir da
gestação, outros exames complementares são necessários: um hemograma, VDRL, nova
glicemia de jejum (pelo novo consenso de rastreio da Diabete Gestacional) e EQU,
estes feitos preferencialmente em torno da 24ª semana. Sempre que possível,
deve ser feita uma ultra-sonografia para avaliação da anatomia fetal por volta
das 20 semanas.(ver tabela de exames).
Alguns pontos em
discussão são a pesquisa da hepatite B, pesquisa de clamídia e cultura para
gonococo na cérvix uterina. O fato é que estas pesquisas encarecem a rotina de
pré-natal, principalmente quando falamos em saúde pública e também não há um
consenso na literatura nestas pesquisas, excetuando a da hepatite B.
Os exames de rotina
devem ser repetidos novamente no início do 3° trimestre (por volta das 32-34
semanas), como hemograma, VDRL, EQU (avaliação básica).
PREOCUPAÇÕES COMUNS ÀS
GESTANTES:
Várias são as dúvidas
que as gestantes podem apresentar durante o atendimento pré-natal. Quando o
abdômen começa a aumentar, é recomendado o uso de roupas largas que não
interfiram na circulação dos membros inferiores nem apertem o abdômen. O uso de
meias elásticas é aconselhado, principalmente naquelas gestantes que apresentem
varizes. O banho não é proibido: a gestante pode nadar, mas o mergulho deve ser
evitado devido a um possível trauma. As duchas vaginais são contra-indicadas.
Grandes mitos como
procedimentos dentários podem ser realizados sob anestesia local e por
profissional com experiência no atendimento a gestantes em qualquer tempo na
gestação. O tipo de anestésico a ser usado é que se deve ter cuidado, mas os
dentistas em geral, observam este detalhe. Os exercícios moderados podem e devem
ser estimulados, devendo-se evitar exercícios exaustivos e perigosos. O repouso
de uma a duas horas por dia é saudável.
A atividade sexual não
é proibida, exceto por razões específicas tais como ameaça de aborto, trabalho
de parto prematuro ou sangramento uterino.
Alguns sintomas são
comuns às gestantes e devem ser minimizados através da educação e pronto
atendimento. As pacientes podem apresentar dores em baixo ventre, secreção
vaginal aumentada e incômoda, câimbras, pressão na pelve, constipação, azia,
aumento e dores nas mamas, e outros vários, devendo sempre ser orientadas e
tratadas conforme o caso em especial.
PRÉ –NATAL DE ALTO RISCO
Não é nosso objetivo
entrar profundamente no atendimento a gestante de alto risco, porém como uma
parcela relativamente representativa de gestantes merece um atendimento mais
cuidadoso, vale a pena citarmos os fatores que classificam uma gestação como de
alto risco. A correta identificação destes fatores e o rápido início do
pré-natal com os cuidados de uma gestação de alto risco, já são suficientes para
garantir bons resultados perinatais.
Define-se como risco
gestacional qualquer patologia ou condição biológica que possa prejudicar a boa
evolução da gestação, do trabalho de parto ou do puerpério.
Dentre os indicadores
de alto risco gestacional encontramos os fatores sócio-econômicos, demográficos,
gineco-obstétricos, doenças maternas prévias, hábitos pessoais e condições
obstétricas atuais (ver tabela).
Depois de iniciado o
pré-natal, o médico assistente identificando qualquer fator de risco, esta
gestante deve ser referendada a um serviço que atenda gestação de alto risco
(preferencialmente), ou ao serviço de ginecologia e obstetrícia de sua
localidade para atendimento especializado.
TABELA 2 – Indicadores de alto risco gestacional |
1- Sócio Econômico |
Baixa renda, condições
precárias de habitação, má nutrição, baixo nível educacional, mães
solteiras, adolescentes. |
2- Demográficos |
Idade materna inferior a 16
e acima de 35 anos, estatura materna inferior a 1,50m, peso materno
inadequado antes da gravidez, história de doenças hereditárias. |
3- Gineco-obstétricos |
Antec. De infertilidade,
gravidez ectópica, abortamento de repetição, anormalidades uterinas,
trabalho de parto prematuro em gestações anteriores, multiparidade,
malformações fetais. |
4- Maternas prévias |
Cardiopatias, pneumopatias,
diabete melito, tiropatia, retardo mental ou doenças psiquiátricas, DSTs,
doenças renais, etc..
|
5-Obstétricas atuais |
Pré-natal ausente ou
tardio, hemorragia anteparto, gestação multípara, hipertensão induzida pela
gestação, ruprema, gestação prolongada, retardo de crescimento, poli e
oligodrâmnio, apresentação anômala. |
6- Hábitos |
Fumo, alcoolismo e uso de
drogas. |
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